quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

terça-feira, 27 de novembro de 2007

CARNATAL

Faltam dois dias para o início da "Grande Festa"! A cidade inteira já sente o clima indefectíficel da vibração do trio-elétrico, das arquibancadas, da multidão, da música, dos cantores. São dois dias de espera que se assemelham à eternidade...

À noite, contagiado por essa sensação, estava ansioso para chegar em casa e aguardar ocioso mais um dia passar. Dentro do meu carro, deixava o vento bater sobre meus cabelos, enquanto a rádio me embalava ao som de "Insolação do Coração", de Babado Novo, que simboliza aquilo que o Brasil tem de melhor: carnaval e futebol, salvo, é claro, a beleza natural das mulatas brasileiras.

De repente, sob a luz vermelha do sinal de trânsito, a música pára. Mais uma vez a rádio dá problema. Bem, talvez fosse alguma interferência no sinal. De qualquer maneira, enquanto estava parado, tentando sintonizar novamente o canal, fui interrompido grosseiramente por dois mendigos que aproveitavam a minha situação de fragilidade para pedir esmolas.

Um deles, um velhinho, vestido em trajes sujos, rasgados, grandes demais para o seu corpo franzino, aparentava seus oitenta anos, tinha o semblante marcado pelas rugas do tempo. Andava meio desajeitado, mancava. Parecia cego, visto que, em uma das mãos, apoiava-se sobre um bastão de madeira; e, na outra mão, era guiado por outro mendigo: um jovem. Raquítico, com a cabeça desproporcional ao corpo, lembrava aquelas crianças típicas de países subdesenvolvidos. Possuía um olhar triste, vago no tempo e no espaço. Sua mão aberta e seu braço esticado estavam ávidos pela migalha prestes a receber.

Motivado por meu sentimento de complacência diante da lamentável situação, tirava da minha carteira uma moeda de R$ 0,10, quando, no mesmo instante, a rádio retorna e o sinal verde desponta sobre meus olhos.

Numa atitude de bastante naturalidade, como se meus instintos me guiassem, apertei o acelerador, deixando riscas sobre o asfalto, numa cena cinematográfica!

Após chegar em casa, tomei um banho quente para relaxar. Em seguida, sentei-me sobre o confortável sofá, que parecia acolher-me com seus braços enormes. Minha "empregada" preparava um belo jantar para eu acalmar os desejos do meu estômago em fúria. Enquanto isso, olhava hipnotizado para o meu abadá, adquirido em parcelas que se perdem no horizonte. Encontrava-me ansioso para o Carnatal chegar. Quanto beijo de boca, azarações, curtições, paqueras, bebidas, amigos!

Hã?! E os mendigos?

Há! Quem se importa?


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

UMA TRADIÇÃO SECULAR

A notícia de que uma menina, com idade de 15 anos (não confirmada), havia sido "jogada" numa cela com 20 homens, provocou várias reações na consciência do "cidadão" brasileiro. Algumas, expressando revolta, indignação, incredulidade. Outras, banalizando mais um caso de violação contra os direitos humanos, uma vez que virou rotina presenciar no cotidiano exemplos similares, ou até piores.

Sem querer analisar currículo, ou seja, não importando o ato ilícito praticado pela menina, o fato é que é tenebroso imaginar que os direitos da pessoa humana - consagrados na Constituição brasileira de 1988 - são tão facilmente aviltados diante de uma população que, hodiernamente, age com naturalidade diante de tais eventos. Isto demonstra o descrédito que gozam nossas instituições, como simboliza a atitude do delegado da cadeia de Abaetuba, interior do Pará, que permitiu tamanha brutalidade com a menor, ao invés de aplicar à risca os ditames da lei.

Como se vê, os 21 anos de história da ditadura brasileira, marcada pela tortura contra pessoas, não acabou. Continua, hoje, sob novo regime político. Portanto, não adianta permutar o regime, se a mente autoritária daqueles que participam das instituições continua a mesma.

São resquícios de um passado de 500 anos de tortura, de um país que foi criado para uma minoria. Que excluiu da construção política os marginalizados latu sensu, como as mulheres, pobres, negros e ex-escravos. E que, talvez por isso, o Brasil do século 21, ainda continua sendo a senzala do século 16, onde mulheres, negras ou brancas, pobres ou ricas, eram objetos de satisfação dos seus senhores e coronéis.

De agora em diante, os regozijos granjeados pelos prisioneiros e pelo delegado de Abaetuba acompanharão a vida da menina, enquanto que tal brutalidade amanhã será esquecida pelas instituições, pelos noticiários e pelo povo brasileiro, que deverão acompanhar mais um outro (e novo) capítulo de violação contra os direitos humanos... uma tradição secular!

sábado, 24 de novembro de 2007

UMA (RE)APROXIMAÇÃO COM O POVÃO BRASILEIRO

Os berros mergulhados de cólera do príncipe dos sociólogos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, receberam ontem (23/11) grande destaque da mídia brasileira. Segundo esta, FHC conclamou seus súditos e correligionários a iniciarem uma peregrinação com o escopo de reaproximação com a massa de pobres, analfabetos e excluídos do País.

E não poderia ter começado "melhor"!

De acordo com o ex-presidente do Brasil, os tucanos farão o possível e o impossível para que o povo brasileiro saiba falar bem o vernáculo brasileiro e, em seguida, citou o exemplo de Minas Gerais, onde o governo do PSDB ampliou de 4 para 9 anos o ensino do Estado. De maneira implícita, em seu discurso, FHC ainda ironizou a baixa escolaridade do presidente Lula.

Com tanta grosseria e preconceito impregnado, o príncipe dos sociólogos deixou evidente o motivo pelo qual os seus súditos obtiveram sucessivas derrotas no cenário político brasileiro durante as últimas eleições.

Alegando possuir a divina sabedoria, FHC tratou com desdém os desprivilegiados do País (eufemismo de marginalizados), que possuem uma incrível capacidade de superar sua condição paupérrima e conquistar postos avançados na hierarquia social brasileira, mesmo com a exclusão proporcionada pela gravíssima situação da educação brasileira. Veja-se, por exemplo, a biografia de seu desafeto principal, o presidente Lula.

É bem verdade que, desde os sofistas da Grécia Antiga, a oratória era bastante conhecida pelo seu incrível poder de persuasão, quando bem utilizada. A boa concatenação das idéias e das palavras transformava-se numa verdadeira arma capaz de convencer as mentes mais ingênuas, de conquistar o poder e desmoralizar os inimigos.

No entanto, não obstante a sua oratória rebuscada, FHC não possui o carisma, o encanto natural que o associe aos anseios do povão. Assim, muito embora o discurso de Lula não se assemelhe ao do seu arqui-rival, a presenca carismática do presidente, o seu passado vinculado aos trabalhadores e suas palavras carregadas de emoção, sempre o reaproxima das camadas pobres do Brasil.

Por fim, vale lembrar, FHC ainda enfatizou que o PSDB não é um partido elitista, mas acadêmico! O príncipe dos sociólogos deveria lembrar que, até antes da universalização do ensino superior, iniciado no governo atual com o PROUNI, elitismo e academicismo eram duas palavras quase sinônimas, uma vez que o diploma de ensino superior estava quase sempre reservado às elites do país.

Para um governo "mal educado", até que Lula começou bem. Talvez seja devida à ânsia, de quem nunca teve a oportunidade de ter uma escola decente, de livrar o Brasil da herança maldita de ser um país composto de analfabetos... ou então, deve ser a contribuição oculta do governo em realizar o objetivo que, há décadas, o PSDB persegue: a aproximação com a massa popular brasileira.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Chávez, Mercosul e a demagogia brasileira

Uma das cláusulas mais importantes do Mercosul é a que estabelece que só países com regimes comprovadamente democráticos podem pertencer ao bloco como membros plenos, e a Venezuela sob Chávez não se enquadra neste perfil (MSM - 21/11).


Anteontem (21/11), o governo chavista obteve a primeira vitória no Brasil para ver aprovado o seu ingresso no MERCOSUL.

Alguns opositores acusam o regime político "antidemocrático" ou "totalitário" de
Chávez como empecilho para sua integração no bloco.

Bem, se a democracia for realmente um valor substancial, temos que rever a "democracia" no Brasil, que mais se assemelha à sua forma corrompida, a "demagogia", conforme o pensamento de Aristóteles, haja vista que
não há como considerar democrático um país que é dominado por oligarquias que há décadas se revezam no poder (no Rio Grande do Norte, por exemplo, os Alves e os Maias formaram uma das mais fortes oligarquias do Brasil, vide
Garibaldi Alves e José Agripino Maia, hoje, no Senado, disputando a cadeira de presidente da Casa).

Além disso, vejamos o exemplo da democracia representativa. O voto secreto no Congresso Nacional é um exemplo típico da falta de respeito com a vontade do eleitor. Se um deputado federal ou senador é representante da vontade dos eleitores, então, o voto secreto revela-se estapafúrdio no sistema democrático representativo.


Entrementes, sem excluir outros exemplos típicos da demagogia brasileira, o princípio da harmonia entre os três poderes, que é um pilar da democracia, originada de Montesquieu, hoje se vê ameaçada com a legislação ativa do Poder Judiciário.
É bom lembrar que, quando o governo
Lula foi à China, até a reacionária Revista Veja ovacionou a atitude do barbudo, muito embora o governo chinês seja essencialmente totalitário.

Portanto, o fato de o governo
Hugo Chávez estar se constituindo como uma alternativa viável ao capitalismo excludente hodierno, é o que realmente amedronta os privilegiados do sistema, que, quando não possui argumentos fundamentos para criticar países vizinhos, partem para a desqualificação sem fronteiras.

É o caso, por exemplo, de
ACM Neto, que ontem (22/11) afirmou que "os venezuelanos não sabem votar". Como se vê, parece cômico como a elite parasitária do nosso país facilmente irrompe contra o princípio da soberania e da autodeterminação dos povos...

De qualquer forma, eu não sei se esse tipo de pensamento é oriunda de uma interpretação linear da realidade política de um país (e aí é um problema sério, pois mostra que o
ACM Neto utiliza-se apenas de um neurônio para analisar tal realidade. Talvez o mesmo neurônio que ele utiliza para ler a Revista Caras).

Ou então, esse tipo de pensamento é ainda um resquício daquele tempo em que os donos de engenhos e coronéis do sertão tratavam seus subordinados como burros de carga.

Se for assim,
ACM Neto só deve pensar que o povo do Brasil ainda se assemelha aos escravos e explorados do século XVI. Seja como for, o ACM Neto, com esse pensamento, revela que o "bom voto" ou o "voto certo" é aquele que beneficia o sistema oligárquico-burguês e, como consequência, a sua própria família e as demais que mamam nas tetas do cofres públicos há décadas....

E viva a demagogia, quer dizer, a democracia brasileira!